Voltaire

Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

       A menina esteve sentada ali durante toda à tarde. Com seus cabelos longos e negros soltos ao vento, em suas faces uma expressão de curiosidade ao olhar para a movimentação das pessoas ao seu redor. Não resistindo mais apenas olha-la sentei-me silenciosamente, até reunir coragem e pergunta-la.
       - O que tanto olha nesse parque? – Fez-se um silêncio entre nós, pensei então que minha pergunta não obteria resposta alguma. Mas calmamente sorrindo e me apontando um casal respondeu.
       -Veja aquele casal, andam de mãos dadas e se olham de uma forma carinhosa um para o outro. – Sorriu – O que você vê ali?
       - Que eles se amam. – Chutei  confuso com a pergunta.
       - Amor não existe, é uma fuga da realidade, uma fantasia para muitos e para outros são máscaras de docilidade para a hipocrisia que tanto querem esconder.
      - Como pode dizer isso?! - Esbravejei indignado
      - Observe aquele outro casal- apontando para um casal jovem- O namorado dela agora deve estar dizendo que a ama- sorriu novamente e olhando-me nos olhos disse- porém todas as noites das sextas ao separarem-se ele corre para os braços de outra. – Não satisfeita com apenas uma comparação, apontou para um casal de idosos que estavam sentados perto dos escorregadores. - Este senhor assim como o outro diz que a ama, porém sempre a deixa para jogar. Ainda acredita em amor?
      Fiquei por um momento pensativo. Então depois de chegar calmamente a uma conclusão, disse quase em um sussurrar.
      - Compreendo o seu modo de ver com relação ao amor, porém assim como tudo na vida existem os dois lados da moeda. Veja novamente aquele casal de idosos - virando-me para os bancos perto dos escorregadores e apontando - Com certeza, antes de encontra-la, ele também tenha dito que amava a muitas, assim como ela também o fez. Porém quando se encontraram e decidiram se unir conheceram de perto ao decorrer dos anos os dois lados da moeda.
      - Os dois lados da moeda?- perguntou com os olhos cor de mel, arregalados de curiosidade - Como assim?
      -Assim como existe o bem e o mal, o baixo e o alto- Fiz uma breve pausa  e continuei sorrindo- existe o amor e o ódio, e por estarem sempre junto é que permitem que a, maioria dos casais consigam vencer as dificuldades da vida a dois. Não estou dizendo que viveram felizes para sempre, porém apesar das brigas, das lágrimas e até mesmo dos jogos e outras atividades, um não se vê sem o outro a vida toda.
     - Mentira! - disse sufocando um grito - O que você me diz então dos casais que se separam? Dos filhos que se rebelam contra os pais? Dos pais que abandonam os filhos?
      Percebi que começava a chover, quando uma pequena gota cristalina tocou meu rosto, então olhando no fundo dos olhos daquela garota, sorri  e respondi com toda convicção.
      - Que uma das partes ou ambas escolheram apenas um lado da moeda. - Senti naquele momento que ainda havia uma réstia de dúvida, porém um dia um alguém me disse que a vida se encarregava de ensinar a todos nós a diferença entre o amor e o ódio. Então partir tranquilamente.
      Depois desse dia nunca mais vi aquela garota, sentada no parque novamente.

                                          (BY Milla Sousa)